sábado, 10 de janeiro de 2009

Badra












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Eu, Badra bent Salah ben Hassan el-Fergani, nascida em Imchuk, sob o signo do Escorpião, calçando o trinta e oito e estando quase a atingir os cinquenta anos de idade, venho declarar o seguinte: estou-me nas tintas para o facto das Negras terem conas saborosas e serem de uma total obediência; não me importa que as Babilónias sejam as mais desejáveis e que as Damascenas as mais carinhosas para os homens; que as Árabes e as Persas sejam as mais férteis e as mais fiéis; que as Núbias tenham as nádegas mais redondas, a pele mais doce e o desejo ardente como a língua de fogo; que as Turcas sejam mais frias, tenham os temperamentos mais malcriados, os corações mais rancorosos e a mais luminosa das inteligências; que as Egícias tenham o falar doce, a amizade agradável e a fidelidade carpichosa.
Declaro que me estou nas tintas para os carneiros e para os peixes, para os Árabes e para os Rumis, para o Oriente e para o Ocidente, para Cartago e para Roma, para Henchir Tlemsani e para Ibn Batuta, para Naguib Mahfuz e para Albert Camus, para Jerusalém e para Sodoma, para o Cairo e para São Petersburgo; para São João e para Judas, para os prepúcios e para os ânus, para as virgens e para as putas, para os esquizofrénicos e para os paranóicos, para Ismahan e para Abdelwahab, para o uádi Harrah e para o oceano Pacífico, para Apollinaire e para Mutannabi, para Nostradamus e para Diop, o marabu.
Porque eu, Badra, decreto que só de uma coisa estou segura: sou eu quem tem a cona mais bela da terra, a mais bem desenhada, a mais roliça, a mais profunda, a mais quente, a mais húmida, a mais barulhenta, a mais perfumada, a mais cantante, a mais gulosa de piças, quando as piças se levantam como arpões.
Posso dizê-lo, posso dizê-lo agora que Driss está morto e que foi por mim enterrado. Sob os loureiros do uádi em Imchuk, a descrente.
(...)
«Tu, a Árabe», dizia o Driss. A árabe é berebere por três dos quatro costados e está-se cagando para quantos só a julgam capaz de esvaziar penicos.

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«Tu, a Árabe» Claro que sou árabe, Driss. Quem melhor do que uma árabe soube receber-te no seu ventre? Quem é que te lavou os pés, te deu a mama, te passou o albornoz e te deu filhos? Que esperou pelo teu regresso, meia noite passada, cheio de vinhaça e piadas de quinta categoria. Quem é que aguentou as tuas investidas apressadas e as tuas ejaculações precoces? Quem é que esteve atenta para evitar que os teus filhos não fossem enrabados e as tuas filhas não fossem engravidadas nalgum recanto de rua ou numa pedreira abandonada? Quem é que se calou? Quem é que esteve de bem com Deus e com o Diabo? Quem é que se curvou? Quem é que por ti trouxe luto durante doze meses inteiros? Quem é que me repudiou? Quem é que comigo se casou e de mim se divorciou, só para salvaguardar um orgulho sem razão e as questões da sua herança? Quem é que me arreava por cada guerra que se perdia? Quem me violou? Quem me degolou? (...) Então porque é que havia de me privar de falar de amor, de alma e de sexo, quanto mais não fosse para responder aos teus esquecidos antepassados?

(...)

“Sabes uma coisa? Eu cá não acredito no pecado. E os que enchem a boca com ele, no Dia do Julgamento Final, apenas terão as vergas cheias de crostas quase a rebentar como único e honroso pecado sob o olhar do Senhor dos mundos. Eles acreditam que as patifarias cometidas pelo seu rolo de carne O irão impressionar! Pois eu digo-te que todos esses filhos da mãe apodrecerão no Inferno por não terem sido capazes de cometer belos e nobre pecados dignos da infinita grandeza de Deus Todo-Poderoso!”

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“Amar, filha. Amar apenas. Mas é um pecado que merece o Paraíso como recompensa.”

excertos do livro de Nedjam “A Amêndoa – Memórias eróticas de uma mulher árabe”, Círculo de Leitores

Calcinha

Driss instalou-me em seu salão e ofereceu-me morangos. Ele me tirou os sapatos, acariciou-me os dedos e as plantas dos pés. Eu estava gelada. Sua boca me queimou o pescoço, percorreu minhas pernas de cima a baixo. Meus seios incharam e os bicos forçavam o pano molhado que me colava na pele., deixando-me ainda mais nua sob seu olhar. Ele os apertou, mordeu de leve, e eles dobraram de volume sob seus dentes. Eu tremia assustada como um passarinho tragado pelo tornado(...).
Ele me despiu devagar, com delicadeza. Eu mal distinguia seus traços. Só seus olhos me penetravam. Ele me ensaboou as costas e até embaixo, cobriu meu púbis de espuma. Seus dedos logo começaram a deslizar embaixo da calcinha e abrir minhas pernas, descobrindo meu clitóris para pressiona-lo com um gesto delicado.
Eu não sabia o que ele queria fazer comigo, mas desejava que o fizesse. Sobretudo que não parasse o enlouquecedor movimento circular que me abria para ele. Implorei: Chega...Chega...’, rezando para que Driss não parasse. Em seguida, me levou até a cama. Quando ele se inclinou para me deitar, puxei-o pelo colarinho, encostei minha boca na dele fazendo pular botões de sua camisa para morder seu peito.Ele ria, luminoso, apertando meus seios com as mãos(...).
O orgasmo me jogou contra ele. Ofegante e profundamente constrangida. Ele não me deu tempo de ganhar fôlego. Guiou minhas mãos para sua braguilha e ficou me olhando. Pousei os lábios ali, improvisando uma carícia que me era tão desconhecida. Ele me deixou fazer isso até desfalecer. Foi então que ele me preencheu.
Ele não quis que eu me vestisse. Limitou-se a sorrir vendo-me proteger minhas intimidades com a palma das mãos(...). Ele tirou do bolso um estojo azul-escuro. Ali dormiam dois diamantes. Eu lhe devolvi o estojo, aberto.
- O que está fazendo?
- Há um mês eles esperam por você. Eu não sabia como oferece-los sem ofende-la.
Ele segurou minhas mãos, beijou-as de leve e continuou:
- Eu espero por você há muito tempo, Badra. Cada pedaço da sua pele é um ninho de amor e um poço de êxtase.
Felicidade? Felicidade é fazer amor por amor. É o coração quase explodindo de tanto palpitar quando um olhar único pousa em sua boca. É a saliva do ser amado que lhe escorre na boca, doce. São as costas que deliram e inventam sons e arrepios para dizer “eu te amo”. É a perna que levanta, é a calcinha que cai como uma folha, inútil e incômoda. Felicidade é Driss, teso pela primeira vez dentro de mim. Felicidade era ele. Era eu.
No início eu não queria que ele enfiasse a língua no meu sexo, chocada com sua falta de pudor. Mas nos segundos que seus lábios roçaram meu monte de Vênus senti o universo virar de pernas para o ar. Eu não sabia que aquela carícia podia ter tamanha intensidade nem que me podia ser dada por um homem.
No dia seguinte, e nos outros, Driss fazia o que queria do meu corpo. Cada palavra, cada olhar varriam uma apreensão, uma ignorância ou um falso pudor. Minha pele ficava mais flexível, minha respiração mais relaxada.(...)
Eu às vezes me perdia a examina-lo. Ele era propriamente bonito. Com músculos longos que me deixavam derretida, pernas bambas e calcinha instantaneamente molhada.(...) Sou dessas que não se satisfazem com uma vez só. Foi ele quem me fez descobrir isso.”☻



Trecho retirado do livro Amêndoa, “Nedja”.

teso

"(?) Tirei rápido a calça e a camisa, e me atirando na cama fiquei aguardando por ela já teso e pronto, fruindo em silêncio o algodão do lençol que me cobria, e logo eu fechava os olhos pensando nas artimanhas que empregaria (das tantas que eu sabia), e com isso fui repassando sozinho na cabeça as coisas todas que fazíamos, de como ela vibrava com os trejeitos iniciais da minha boca e o brilho que eu forjava nos meus olhos, onde eu fazia aflorar o que existia em mim de mais torpe e sólido, sabendo que ela arrebatada pelo meu avesso haveria sempre de gritar “é este o canalha que eu amo”, e repassei na cabeça este outro lance trivial do nosso jogo, preâmbulo contudo de insuspeitadas tramas posteriores, e tão necessário como fazer avançar de começo a um simples peão sobre o tabuleiro, e em que eu, fechando a minha mão na sua, arrumava-lhe os dedos, imprimindo-lhes coragem, conduzindo-os sob meu comando aos cabelos do meu peito, até que eles, a exemplo dos meus próprios dedos debaixo do lençol desenvolvessem por si sós uma primorosa atividade clandestina, ou então, em etapa adiantada, depois de criteriosamente vasculhados nossos pêlos, caroços e tantos cheiros, quando os dois de joelhos medíamos o caminho mais prolongado de um único beijo, nossas mãos em palma se colando, os braços se abrindo num exercício quase cristão, nossos dentes mordendo ao outro a boca como se mordessem a carne macia do coração, e de olhos fechados, largando a imaginação nas curvas desses rodeios, me vi também às voltas com certas práticas, fosse quando eu em transe, e já soberbamente soerguido da sela do seu ventre, atendia precoce a um dos seus (dos meus) caprichos mais insólitos, atirando em jatos súbitos e violentos o visgo leitoso que lhe aderia a pele do rosto e a pele dos seios, ou fosse aquela outra, menos impulsiva e de lenta maturação, o fruto se desenvolvendo num crescendo mudo e paciente de rijas contrações, em que eu dentro dela, sem nos mexermos, chegávamos com gritos exasperados aos estertores da mais alta exaltação, e pensei ainda no salto perigoso do reverso, quando ela de bruços me oferecia generosamente um outro pasto."

Trecho de Um copo de cólera, Raduan Nassar

" dar o cu 97 vezes"

"Apenas agora - depois de dar o cu 97 vezes, é que surge em mim a enormidade do poder que reside nessa área. É uma terapia emocional e física no nível mais profundo".

Trechos do livro "A Entrega - Memórias Eróticas", Toni Bentley.